Prevenção da enxaqueca: intervenções não medicamentosas
- Bruna Pedrozo Festa
- 28 de abr. de 2024
- 3 min de leitura
Atualizado: 6 de jul. de 2024
Uma das motivações mais frequentes de busca por avaliação neurológica é a cefaléia (dor de cabeça) do tipo enxaqueca. Antes de buscar diagnóstico e tratamento adequado grande parte dos pacientes já apresentou prejuízos em sua vida pessoal e/ou profissional em decorrência da dor e sintomas associados, muitas vezes frequentes e até incapacitantes.
Em todo o mundo, quase 3 bilhões de pessoas sofrem com dores de cabeça; desses, aproximadamente 1,04 bilhão têm enxaqueca. As taxas de prevalência da enxaqueca são de 19% para as mulheres e 10% para homens. No Brasil a prevalência média de dor de cabeça em 1 ano é de 70,6%, sendo de enxaqueca 15,8% (1).

Tratamentos não farmacológicos, incluindo modificações no estilo de vida, alterações comportamentais, suplementos fitoterápicos e nutricionais e exercícios físicos, são componente central do plano de tratamento da enxaqueca. A evidência sobre o valor de medidas não farmacológicas na prevenção da enxaqueca continua a crescer. As vantagens dos tratamentos não farmacológicos incluem efeitos benéficos em conjunto com a terapia medicamentosa, menor risco de efeitos colaterais sistêmicos e promoção de um senso de responsabilidade pelo seu tratamento por parte do paciente.
Estilo de vida
O estilo de vida é um componente essencial do tratamento da enxaqueca e pode ser considerado como um elemento de prevenção. Fatores importantes de estilo de vida a serem considerados incluem horário/tempo de sono adequado e de boa qualidade, manter uma boa hidratação, fazer refeições frequentes e bem balanceadas (evitando alimentos ultraprocessados), evitar álcool, manter a cafeína em um nível nível modesto e em horário regular, além da realização de atividade física com regularidade. O controle do estresse e de transtornos do humor (como ansiedade e depressão) também é de suma importância para as pessoas com enxaqueca.
Intervenções mente/corpo e intervenções comportamentais
Terapias comportamentais com evidências de boa qualidade na prevenção da enxaqueca incluem terapia cognitivo-comportamental e treinamento de relaxamento. Vários pequenos estudos avaliando yoga para prevenção da enxaqueca foram positivos. Um ensaio clínico de 2020 na Índia avaliou o yoga como um complemento positivo à prevenção farmacológica. Estudos recentes também demonstraram benefícios da meditação, particularmente meditação baseada na atenção plena. As evidências também apoiam a combinação de medidas farmacológicas e tratamentos não farmacológicos. Um ensaio clínico examinando o efeito da terapia cognitivo-comportamental ou propranolol sozinho em comparação com a combinação encontrou maior redução nos dias de dor de cabeça no grupo de tratamento combinado. Uma análise secundária deste estudo sugeriu que pacientes com enxaqueca e transtornos de humor se beneficiam particularmente da combinação de medidas farmacológicas e comportamentais ou tratamentos mente/corpo (2).
Acupuntura
A acupuntura é uma das intervenções não farmacológicas mais frequentemente estudadas para prevenção da enxaqueca. Uma revisão Cochrane de 2016 descobriu que 41% dos participantes que receberam acupuntura tiveram pelo menos uma redução de 50% na frequência de dor de cabeça (2).
Suplementos nutricionais
Vários suplementos fitoterápicos e nutricionais têm sido estudados para fins preventivos no tratamento da enxaqueca, embora nenhum seja aprovado pelo FDA (Food and Drug Administration - EUA). De acordo com as diretrizes da AAN/AHS (AAN = American Academy of Neurology; AHS = American Headache Society) de 2012, os suplementos de magnésio e vitamina B2 (riboflavina) têm evidência de nível B para eficácia na prevenção da enxaqueca. Revisões sistemáticas recentes também apoiaram a eficácia do magnésio e da riboflavina. A coenzima Q10 foi classificada como tendo evidência de nível C. Importante ressaltar que a indicação de uso, formulação e dose devem ser avaliadas pela/o neurologista considerando a individualidade de cada paciente (2).
Intervenções preventivas, sejam elas farmacológicas, não farmacológicas ou a combinação de ambas, têm grande capacidade de melhorar a qualidade de vida das pessoas com enxaqueca, devendo cada paciente ser avaliado/a de acordo com sua individualidade. Aderir a um estilo de vida saudável, com cuidados com a mente e o corpo é primordial para o sucesso do tratamento e tem grande potencial de auxílio na qualidade de vida de quem sofre com enxaqueca.
Referências:
(1) -Queiroz, L. P., & Silva Junior, A. A. (2015). The Prevalence and Impact of Headache in Brazil. Headache: The Journal of Head and Face Pain, 55, 32–38. doi:10.1111/head.12511
(2) -Continuum lifelong learning in neurology - Continuum (Minneap Minn) 2021; 27(3, HEADACHE):613–632.
*O material tem caráter informativo e não deve ser utilizado para realizar autodiagnóstico, autotratamento ou automedicação. Em caso de dúvidas, consulte sua médica/seu médico.
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